Revisão do Plano Diretor de Itumbiara
Relatório Reunião Setorial
Escuta Comunitária Comunidade Romani (ciganos) do Bairro da Saúde
Data: 08/12/2021
Horário: 19h
Local: Rua Azulão esquina com Rua Canário, Itumbiara
Liderança: João dos Reis Fernandes
A classe cigana, tem muito preconceito. A gente é classe pobre e depende muito dos outros, muitos nao tem onde morar. A situação é precária.
Tem 30 anos que moram em Itumbiara, sob o tronco da família Fernandes. A família fica mais no Dona Sinica, mas já passou pelo Buriti I. As vezes as pessoas tiram a gente de um local e nem precisam do terreno.
Cigano não pega casa pra vender. Antes a gente pegava carroça, cavalo e andava pra todo canto. Hoje as crianças precisam estudar, então a gente quer ficar quieto.
Eles precisam de casa, não querem ficar em barracas.
Na reunião havia vários núcleos familiares. Alguns moram nos fundos da Caramuru.
O João tem cadastro na prefeitura para receber casa desde 2005. Janete da Silva também, e a maioria também tem cadastro na prefeitura. Todos são a mesma família, o que demanda um único núcleo familiar.
Eles valorizam muito o estudo para as crianças. João trabalha na PFC, prestadora de serviços da Enel. Fora ele, estão todos desempregados e procurando emprego, mas tem muito preconceito.
A família veio de Buriti Alegre e se assentou em Itumbiara há 30 anos.
Eles conhecem as outras comunidades de ciganos e tem amizade, se ajudam.
Abel Fernandes gosta de mexer com cavalos, mas há uns 5 meses ele parou de mexer por dificuldades de uso do espaço público para a criação. Antes de ele parar usava o cavalo para puxar uma carroça de reciclagem. Agora ele está parado.
Sirleide também trabalha com reciclagem. Para isso ela usa um carrinho de bebê quebrado. Ela anda pela cidade toda e vende para uma empresa de reciclagem no bairro da saúde. Por dia ela consegue de 70 a 90 reais por dia. Ela pega metal, latinha, papelão e vidro.
Entre todos os adultos mais ou menos metade são alfabetizados e foram alfabetizados quando crianças. Os outros não tiveram chance de acesso ao EJA. João conseguiu fazer até a terceira série no EJA, e foi alfabetizado quando criança.
O Adão, um dos jovens fez computação. As crianças já estão conseguindo estudar mais. A maioria deles tem que ir a escola pegar atividade para fazer em casa. Com a pandemia, todos afastaram das escolas e as crianças não tem nem computadores nem internet. Portanto, ficam sem aulas expositivas.
Há algum preconceito nas escolas por causa do preconceito com a comunidade. Alguns alunos chegam a ter dificuldade de frequentar, mas não todos.
Quanto ao acesso a saúde, os postinhos tem atendimento deficitário. Pra cuidar de um dente é difícil, fica adiando. Pode ser que haja certo preconceito no atendimento, mas não por parte de todos os trabalhadores do Posto de Saúde.
Apenas uma parte deles tiveram acesso ao Bolsa Família e ao Auxilio Brasil. Os que moram em barracas tem dificuldades com comprovação de endereço.
As igrejas discriminam a comunidade. No ano passado foram a Igreja Nossa Senhora das Graças e na Catedral Santa Rita de Cássia que estava distribuindo cestas de natal e estas foram negadas aos ciganos da comunidade.
A igrejinha do bairro também nega a hóstia a mulheres da comunidade.
João mora há 30 anos e nunca viu ciganos receberem casa do governo ou pelos prefeitos.
Marco Fernandes diz que não tem uma área onde os ciganos possam ficar juntos. Em Goiatuba, Buriti Alegre e Morrinhos a classe cigana ganharam lugar pra ficar ou casas. Aqui em Itumbiara não.
Eles não tiveram nenhuma morte pro Covid.
Não recebem nenhum auxilio da prefeitura quando falece algum membro da comunidade.
Eles receberam hoje uma cesta recentemente distribuída pelo Governo do Estado.
As comunidades do Juca Arantes, Cidade Jardim e da Celso Maeda são outras famílias. São amigos mas não tem uma convivência cotidiana.
Costumam criar galinhas e cultivar hortas, tem costume de ter cachorro em casa e alguns tem gatos. Mas não tem necessidade de grandes lotes para cada família.
Não se sentiriam bem morando em apartamentos.
A única pessoa que mantem mais relação com eles é o José Ribeiro, que os ajuda demais. Já chegou a pagar dívidas de alguns deles em dívidas de hospital.
Todos são católicos.
Sirleide está com a água pra cortar e não tem o dinheiro para pagar.
Eles não contribuem com o INSS, o único é João que tá trabalhando. O que mais chega é o Bolsa Família. Mas pode ser que alguns tenham direito ao BPC, só que não tem cadastro.
O mais velho tem 57 anos, Divino, não tem aposentadoria. Dona Luzia tem 69 anos. Dona Neilda tem 80 anos e recebe BPC. Uma criança morreu aos dois anos com picadura de escorpião. Divino Feitó faleceu do coração aos 42. Não sabem dizer se há redução da expectativa de vida na comunidade.
Quem mora nas casas tem acesso a água tratada. Mas os que moram nas barracas costumam pedir água aos vizinho. O banheiro é improvisado na área. Algumas vezes eles pedem aos vizinhos. Nos terrenos perto da Caramuru os donos já estão pedindo para eles saírem porque estão fazendo casas de habitação popular lá.
As famílias costumam ter de dois a quatro filhos.
Eles não tem raízes culturais longínquas além de Buriti Alegre. Os maiores encontros festivos da comunidade acontecem na festa de Santo Reis e quando tem algum casamento. Antigamente eles tinham um grupo de Folia de Reis que cantava, tocava e visitava as casas, mas atualmente está desativado.
Até sua juventude Marco Fernandes ainda costumava praticar o nomadismo e viajar. As viagens eram feitas em grupos familiares, as vezes grandes de até 40 pessoas. Era uma época de muita fome e incertezas. Hoje eles consideram importante se fixar.
Às 20hs encerramos a escuta e fizemos um lanche junto com a comunidade.
Pela Prefeitura e ARCA participaram:
Wender Borges
Gerson Neto
Dioni Ribeiro
Juliana Santos Mamede