Revisão do Plano Diretor de Itumbiara
Relatório Reunião Setorial
Comunidade Quilombola Córrego do Inhambu
Data: 10/11/2021
Hora: 19h
Local: Sala do Conselho Tutelar, Itumbiara
História
O grupo quilombola ocupava uma área rural na região do Córrego de Inhambu, que hoje está situada no município de Cachoeira Dourada. Em 1978 eles foram expulsos das suas terras e se espalharam pela região. Algumas das famílias, Franco, Teodoro, Martins e Borges se mudaram para Itumbiara fugindo da violência dos grileiros. Em Itumbiara as famílias se urbanizaram e se desconectaram das outras famílias que se espalharam pelo território, que na época ainda era parte do município de Itumbiara. Em 2017 essas famílias de Itumbiara foram encontradas por Marta Ivone, superintendente da igualdade racial do governo estadual de Goiás, que os convenceu a buscar sua certificação como comunidade quilombola, reatando suas raízes com a região do Córrego do Inhambu. No mesmo ano eles já conseguiram a certificação e foram a busca dos antigos moradores do quilombo para reunir novamente a comunidade. O primeiro contato com as pessoas que ficaram em Cachoeira Dourada foi difícil, mas com a montagem da associação e o apoio da prefeita de Cachoeira Dourada o grupo foi conseguindo se rearticular. Buscaram o direito a terra deles no Incra. O processo de demarcação e estudo antropológico já foi iniciado. A essa altura as lideranças já tinham 184 famílias cadastradas na comunidade quilombola. As políticas públicas encadeadas pelo processo da pandemia fez crescer o número de famílias contactadas e acelerou o processo de rearticulação da comunidade. Hoje tem comunitários espalhados pela cidade de Cachoeira Dourada, pelos distritos de Nilópolis, Almerindonópolis, e zona rural de Cachoeira Dourada e por Itumbiara, configurando assim um quilombo urbano e rural.
Cultura
O forte das expressões culturais da comunidade estão em Itumbiara. Eles tem um grupo de congada, dois grupos de Moçambique e um grupo de Catupé. Esses grupos existem, mas ainda não tem um calendário fixo para a realização de festas.
Eles costumam participar das festas do dia de São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Zumbi dos Palmares, em 5 de outubro, organizada pela Dona Cecília e estão se preparando para participar da festa de 20 de novembro, dia do Consciência Negra, organizada pela Dona Iracema do Congo Moçambique Real. O grupo Catupé se prepara para organizar uma festa unificada com os grupos de congo de Itumbiara.
Tanto a Associação como os grupos culturais tem reconhecimento de utilidade pública municipal e estão procurando o reconhecimento de utilidade pública estadual.
Saúde
A comunidade quilombola do Córrego do Inhambu conta com um posto de saúde de referencia em Itumbiara, o PSF 14, no bairro de Dionária Rocha. Recentemente a mobilização do grupo tem provocado uma atenção maior das políticas públicas, com realização de eventos para o Outubro Rosa, de prevenção ao câncer de mama. A atenção com as doenças genéticas ligadas a população negra, como anemia falciforme, pressão alta e outras tem crescido a partir da articulação da comunidade. Eles apontam uma necessidade de capacitação dos profissionais de saúde para o atendimento específico, com desenvolvimento de protocolos específicos no caso dessas doenças geneticamente específicas.
Racismo
Antes não havia a impressão de que era normal a falta de acesso aos direitos, e a organização da comunidade desperta a consciência desses direitos. É preciso sempre se unir para se defender do preconceito e lutar por seus direitos. “A gente não quer as correntes arrastando mais. A gente quer projetar as conquistas que nosso povo já teve e pode ter.” Diz Núbia.
Educação
A comunidade tem dificuldade. Algumas escolas não puderam ser fechadas porque poderiam ser consideradas escolas quilombolas. Ainda assim é difícil delimitar quais são as escolas quilombolas, já que as famílias da comunidade estão dispersas pela cidade. Até antes da pandemia a comunidade Córrego do Inhambu já contava com 92 famílias morando na cidade de Itumbiara. Outras famílias foram cadastradas depois da pandemia, mas ainda não tem seus registros homologados. O acesso a educação de nível superior ainda é mínimo, com poucas oportunidades para alcançar maiores níveis de escolaridades. Ainda assim, algumas pessoas da comunidade conseguiram cursar faculdades como pedagogia, educação física, direito e nutrição em instituições de ensino superior de Itumbiara. Apenas um jovem da comunidade entrou pelas cotas no curso de Relações Internacionais na Universidade Federal do Tocantins.
Habitação
A maioria dos membros da comunidade ainda não tem casa própria e vive de aluguel. Alguns dos mais velhos, quando vieram da zona rural tiveram acesso a lotes doados ou casas cedidas por antigos patrões. Outros que conseguiram comprar um lote costumam construir unidades extras para abrigar as famílias dos filhos.
Trabalho e Emprego
As mulheres em sua maioria trabalham como domésticas. Muitas não conseguem se aposentar porque não são registradas, nem mesmo com o fundo rural antigo porque não conseguem comprovar que vieram da roça. Os homens costumam exercer trabalho braçal: pedreiro, servente e chapa. Alguns ocupam posições mais simples como motorista, auxiliar de produção e serviços gerais nas grandes empresas da cidade. Alguns são funcionários públicos. Um grande número dos comunitários está desempregado. Há dificuldade de acesso a trabalho por causa do racismo estrutural.
Religião
Existem praticantes de todas as religiões dentro do quilombo. Muitos praticam as religiões de matriz africana. Quanto as religiões de matriz africana, existem algumas casas na cidade, mas elas não são bem recebidas pela vizinhança por preconceito com os tambores, com as vestimentas. Em Itumbiara cresceu o número de adeptos a essas religiões, e eles usam suas guias e turbantes as ruas. Há necessidade de valorização e respeito por parte da cidade a essas religiões de matriz africana. Esse preconceito é reproduzido até mesmo em relação as manifestações culturais, como a congada.
Participaram da reunião:
Núbia Cristina Santos Teodoro
Edson Santos Teodoro
Franco Elisafan Alves
Cleiton Martins Borges
Ângela de Jesus Araújo
Pela equipe da Revisão do Plano Diretor participaram:
Wender Borges
Gerson Neto