Goiânia precisa fazer as pazes com o meio ambiente. As veredas, algumas das mais belas paisagens do Cerrado, praticamente sumiram da nossa cidade. Isso acontece porque quase todas elas foram drenadas para transformar o terreno alagadiço em terra seca. Depois que o brejo se vai os buritis não se reproduzem mais e o terreno fica pobre, como aconteceu na região da Marginal com a Rua 88 onde os buritis estão morrendo e a área nunca mais voltará a ser uma vereda.
A Arca e o movimento BR Cidades, um grupo de ambientalistas, urbanistas e estudantes preocupados com a organização das cidades para lutar contra a destruição do que pode ser a última vereda preservada de Goiânia. Ela conta com sua grande área alagada, seu campo de murundus e suas áreas de infiltração, que hoje formam o que será o Parque das Ferraduras, também chamado Sebastião Júlio Aguiar. Um acordo feito entre a prefeitura de Goiânia e grandes construtoras troca a construção do parque pelo direito de construir prédios em seu entorno, repetindo o mesmo que aconteceu com o Parque Flamboyant.
Somos totalmente a favor do Parque das Ferraduras. Aquela área tem uma história importante na cidade de Goiânia. Foi palco de um massacre em 2005 e sempre sofreu com o descarte de lixo e entulho. Há mais de 20 anos a vizinhança espera pela construção do parque. Por tudo isso é urgente a sua urbanização.
Nossa primeira preocupação é quanto a drenagem da vereda para as obras da atual proposta de parque. Por isso fizemos um projeto alternativo, com pistas suspensas de grade metalica, erguidas a 3,5 metros de altura sustentadas por arcos, estaiadas com tirantes. Essa ideia surgiu a partir das palafitas, muito usadas pelos povos da região amazônica para ocupar áreas que se alagam durante parte do ano e que tem menor impacto sobre o solo alagado.
A outra preocupação que temos é a insistência na construção de prédios no entorno dos parques ao contrário do que diz o nosso Plano Diretor. A prioridade de adensamento deve ser ao longo dos eixos do transporte coletivo a partir das regiões centrais da nossa cidade, como o Centro, Vila Nova, Coimbra e Campinas.
Para construirmos uma cidade saudável, compacta, segura e viva, onde haja espaço para todos, inclusive para o meio ambiente, temos que mudar nossa maneira de pensar e agir. Se continuarmos fazendo as mesmas coisas, vamos destruir tudo o que ainda nos resta de bom e belo.
Gerson Neto – Presidente da Arca